Você já ouviu alguém dizer que “subir pra cima” está errado? Ou que “entrar pra dentro” é um erro grave? Talvez sim — e talvez até tenha corrigido alguém. Mas será que toda repetição de palavras com sentidos semelhantes é um erro? Ou há casos em que esse recurso é intencional e até enriquecedor para o texto?
Bem-vindo ao universo do pleonasmo, onde repetir pode ser feio… ou pode ser belo.
Assista ao vídeo que explica sobre FIGURAS DE LINGUAGEM
Afinal, o que é pleonasmo?
Pleonasmo é uma figura de linguagem em que ocorre a repetição de uma ideia ou termo com o objetivo de reforçar o sentido. Ele pode ser:
- vicioso (quando é um erro de linguagem); ou
- literário ou estilístico (quando é usado com intenção expressiva).
A diferença entre um e outro está no contexto e, principalmente, na intencionalidade de quem escreve ou fala.
Pleonasmo vicioso: quando repetir é um tropeço
Imagine alguém dizendo:
“Vamos repetir de novo essa música!”
A palavra “repetir” já traz a ideia de fazer de novo, então, nesse caso, o termo adicional é redundante e desnecessário. Isso é o que chamamos de pleonasmo vicioso, ou seja, uma repetição que empobrece o texto ou o torna incoerente.
Outros exemplos comuns:
- “sair para fora”
- “encarar de frente”
- “elo de ligação”
- “subir para cima”
- “criar uma nova criação”
Essas construções costumam ocorrer na linguagem coloquial e são tidas como vícios de linguagem. Em contextos formais, devem ser evitadas.
Pleonasmo literário: quando repetir é arte
Agora pense na frase:
“Vi com meus próprios olhos.”
Aqui, temos uma repetição desnecessária? Sim. Mas é um recurso intencional, usado para reforçar a veracidade ou a dramaticidade da fala. Esse é o chamado pleonasmo estilístico.
Autores e poetas usam pleonasmos para criar ritmo, ênfase ou emoção. Veja este verso de Camões:
“Chovia uma triste chuva de tristeza.”
Ou esta música de Caetano Veloso:
“Eu sei que vou te amar / Por toda a minha vida eu vou te amar.”
Nesses casos, a repetição é expressiva, não um erro. Ela carrega intensidade emocional.
Como saber quando o pleonasmo é erro ou estilo?
Aqui vai uma dica simples:
Pergunte a si mesmo: essa repetição tem uma função expressiva? Está aqui para reforçar uma ideia de forma intencional ou só está “enchendo linguiça”?
Se for só uma redundância sem função — corte.
Se for proposital e traz sentido estético — valorize.
Pleonasmos que você pode (e deve) evitar em textos formais
Em redações, textos acadêmicos e ambientes profissionais, evite pleonasmos viciosos. Eles podem soar como descuido ou falta de domínio da língua.
- ❌ “Continue a seguir em frente com o projeto.”
✅ “Continue com o projeto.” ou “Siga com o projeto.” - ❌ “Vamos antecipar para antes do prazo.”
✅ “Vamos antecipar o prazo.”
Conclusão: a arte está no uso consciente
O pleonasmo não é, por si só, um erro — é uma faca de dois gumes. Usado com cuidado, ele pode dar força e beleza à comunicação. Usado sem critério, pode enfraquecer sua mensagem.
Portanto, da próxima vez que ouvir alguém dizer “eu vi com meus próprios olhos”, pense duas vezes antes de corrigir. Pode ser poesia disfarçada de conversa.
📝 Atividade – Pleonasmo: erro ou estilo?
1. Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de pleonasmo vicioso:
a) Vi com meus próprios olhos.
b) Sair para fora rapidamente.
c) Chove chuva, chove sem parar.
d) Vou subir a escada.
2. Em qual alternativa o pleonasmo é usado como recurso estilístico (intencional)?
a) Entra pra dentro e senta logo.
b) Vamos antecipar antes do prazo.
c) Eu ouvi com meus próprios ouvidos.
d) Ele retornou de novo para casa.
3. Qual é a principal diferença entre o pleonasmo vicioso e o pleonasmo literário?
a) O vicioso é usado na fala cotidiana e o literário em textos científicos.
b) O vicioso ocorre apenas na fala, e o literário apenas na escrita.
c) O vicioso é erro de repetição; o literário reforça ideias com intenção estilística.
d) Não há diferença: ambos são considerados vícios de linguagem.
4. Marque a frase em que o uso do pleonasmo compromete a clareza da linguagem:
a) Ele vive uma vida difícil.
b) Vamos repetir novamente a apresentação.
c) Vi o mundo girando em meu pensamento.
d) Os olhos cegos enxergam o que o coração sente.
5. Em um texto formal, qual alternativa seria a mais adequada?
a) Vamos subir para cima o mais rápido possível.
b) Eu vi com meus próprios olhos, Excelência.
c) Antecipamos para antes da data prevista.
d) Antecipamos a entrega.
✅ Gabarito Explicativo – Pleonasmo: erro ou estilo?
1. Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de pleonasmo vicioso:
Resposta correta: b) Sair para fora rapidamente.
📌 Explicação: “Sair” já pressupõe ir para fora. Repetir “para fora” é redundante e desnecessário, caracterizando um pleonasmo vicioso, que deve ser evitado em textos formais.
2. Em qual alternativa o pleonasmo é usado como recurso estilístico (intencional)?
Resposta correta: c) Eu ouvi com meus próprios ouvidos.
📌 Explicação: Aqui o pleonasmo é intencional, reforçando o envolvimento pessoal e dando ênfase à afirmação. É um exemplo de pleonasmo literário ou estilístico, comum em falas emocionais ou textos poéticos.
3. Qual é a principal diferença entre o pleonasmo vicioso e o pleonasmo literário?
Resposta correta: c) O vicioso é erro de repetição; o literário reforça ideias com intenção estilística.
📌 Explicação: A diferença central está na intenção. O pleonasmo vicioso repete ideias sem necessidade e prejudica a clareza. Já o literário é usado com objetivo expressivo, para dar força, beleza ou emoção à linguagem.
4. Marque a frase em que o uso do pleonasmo compromete a clareza da linguagem:
Resposta correta: b) Vamos repetir novamente a apresentação.
📌 Explicação: O verbo “repetir” já significa “fazer novamente”. Acrescentar “novamente” é um erro de redundância, pois a repetição está implícita. Isso torna a frase excessiva e desnecessária.
5. Em um texto formal, qual alternativa seria a mais adequada?
Resposta correta: d) Antecipamos a entrega.
📌 Explicação: A forma é direta, clara e objetiva — exatamente o que se espera em textos formais. As outras opções apresentam pleonasmos viciosos que devem ser evitados nesses contextos.