Termos que caíram em desuso por respeito, empatia ou evolução social
A língua portuguesa, assim como qualquer idioma vivo, está em constante transformação. Essa evolução não ocorre apenas por questões estéticas ou práticas, mas também reflete mudanças profundas na sociedade, em seus valores e em sua compreensão sobre respeito e dignidade humana. Nesse processo evolutivo, algumas palavras e expressões que antes eram comumente utilizadas passaram a ser reconhecidas como preconceituosas, discriminatórias ou ofensivas, caindo gradualmente em desuso.
Este artigo aborda, de forma ética e educativa, termos que foram ou estão sendo abandonados no português brasileiro por carregarem preconceitos, estereótipos negativos ou por perpetuarem visões discriminatórias. Compreender esse processo não é apenas uma questão linguística, mas um exercício de empatia e cidadania que reflete o amadurecimento coletivo da nossa sociedade.
A língua como reflexo da sociedade
A linguagem que utilizamos não é neutra. Ela carrega valores, crenças e visões de mundo que podem tanto promover o respeito e a inclusão quanto perpetuar preconceitos e discriminações. Como explica o doutor em letras e pesquisador Gabriel Nascimento, no livro “Racismo Linguístico”, “o racismo está em todas as estruturas da nossa sociedade”, incluindo a língua que falamos e escrevemos diariamente.
Jorcemara Cardoso, doutora em linguística e coordenadora da comissão de diversidade, inclusão e igualdade da Associação Brasileira de Linguística (CDII-Abralin), complementa essa visão ao afirmar que “uma forma mais pulverizada do racismo linguístico é o imaginário que se construiu historicamente sobre o ‘erro de português’. Este é uma forma de reforçar na língua apenas o que espelha a branquitude”.
Quando tomamos consciência de que certas palavras ou expressões carregam preconceitos, temos a oportunidade de transformar nossa linguagem, tornando-a mais inclusiva e respeitosa. Essa mudança não é apenas uma questão de “politicamente correto”, mas um reconhecimento de que a língua pode ser um instrumento de dominação ou de libertação, dependendo de como a utilizamos.
Termos preconceituosos e suas origens
Muitas expressões preconceituosas têm raízes históricas profundas, frequentemente ligadas a períodos de opressão, como a escravidão no Brasil. Conhecer essas origens nos ajuda a compreender por que determinados termos devem ser abandonados e substituídos por alternativas mais respeitosas.
Vamos analisar alguns exemplos de termos e expressões que estão caindo em desuso por carregarem preconceitos:
1. “A coisa tá preta”
Esta expressão associa a cor preta a algo ruim, perigoso ou desfavorável. Ao utilizar “preta” como sinônimo de problema ou dificuldade, reforça-se inconscientemente um preconceito racial que associa a negritude a aspectos negativos.
Alternativas: “A situação é difícil”, “O caso é complexo” ou “A coisa está complicada”.
2. Termos depreciativos para cabelos afro
Expressões como “cabelo ruim”, “cabelo bombril” ou “cabelo duro” menosprezam características físicas das pessoas negras, associando-as a coisas ruins ou de qualidade inferior. Os tipos de cabelos existentes na sociedade são diversos e não existem melhores ou piores.
Alternativas: “Cabelos crespos” ou “cabelos cacheados”, conforme suas características específicas.
3. “Crioulo” ou “crioula”
De origem colonial, este termo refere-se pejorativamente à pessoa negra que era escravizada. Apesar de em alguns contextos específicos ter sido ressignificado por movimentos negros, seu uso por pessoas não-negras é considerado ofensivo e deve ser evitado.
Recomendação: Este termo deve ser excluído do vocabulário cotidiano.
4. “Da cor do pecado”
Ainda que muitas vezes empregada como suposto elogio, esta expressão reforça a objetificação e a sexualização do corpo negro, além de associar a negritude ao pecado, algo moralmente condenável na tradição judaico-cristã.
Recomendação: Deve ser excluída do vocabulário.
5. “Denegrir”
Seu uso está associado à ideia de macular, manchar ou sujar, remetendo à ideia de que tornar algo negro é negativo. Assim, reforça a ligação da pessoa negra a coisas ruins.
Alternativas: “Difamar” ou “caluniar”.
6. “Dia de branco”
De origem escravocrata, esta expressão tem dois usos: “hoje é dia de trabalho” ou “hoje é dia de descanso”. No primeiro caso, associa a pessoa escravizada à preguiça e o branco ao trabalho – o que é uma incongruência, uma vez que a escravidão era o pilar econômico do país. No segundo, faz alusão ao descanso porque o branco, por não trabalhar, poderia ter um dia de luxos enquanto seus escravos sofriam.
Alternativas: “Dia de trabalho” ou “dia de descanso”, conforme o contexto.
7. “Disputar a negra”
Refere-se a um jogo de desempate para determinar quem ganhará. Possui caráter racista e misógino e remete ao período da escravidão, quando homens brancos que possuíam mulheres escravizadas as apostavam como prêmio.
Alternativa: “Partida de desempate”.
8. “Esclarecer”
Significa tornar algo claro, trazer luz sobre determinado assunto. “Transmite a ideia de que a compreensão de algo só pode ocorrer sob as bênçãos da claridade, da branquitude, mantendo no campo da dúvida e do desconhecimento as coisas negras”, explica a cartilha do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Alternativas: “Elucidar” ou “explicar”.
9. “Mulata” ou “mulato”
Termo derivado de “mula” (animal híbrido e estéril), era usado para se referir a pessoas nascidas de relações entre pessoas brancas e negras. Além da origem pejorativa, o termo, especialmente no feminino, está associado à hipersexualização da mulher negra.
Alternativas: Pessoa negra ou parda, conforme a autodeclaração do indivíduo.
10. “Lista negra”
Associa a cor negra a algo negativo, indesejável ou proibido. Reforça estereótipos negativos relacionados à negritude.
Alternativas: “Lista de restrições” ou “lista de exclusões”.
A evolução da linguagem em relação a outros grupos
O abandono de termos preconceituosos não se limita apenas a questões raciais. A sociedade tem avançado também no reconhecimento e respeito a outros grupos historicamente marginalizados:
Pessoas com deficiência
Termos como “retardado”, “mongoloide”, “aleijado” ou “defeituoso” foram substituídos por expressões que reconhecem a dignidade e humanidade dessas pessoas. A própria expressão “portador de deficiência” caiu em desuso, sendo substituída por “pessoa com deficiência”, colocando a pessoa antes da condição.
Comunidade LGBTQIA+
Palavras pejorativas usadas para se referir a pessoas homossexuais, bissexuais, transexuais e outras identidades de gênero e orientações sexuais têm sido abandonadas em favor de termos respeitosos que reconhecem a diversidade humana.
Povos indígenas
Expressões como “programa de índio” (para algo desorganizado ou sem graça) ou “índio” (para alguém considerado ignorante) reforçam estereótipos negativos sobre os povos originários e têm sido cada vez mais criticadas e abandonadas.
Por que abandonar esses termos?
Algumas pessoas questionam a necessidade de abandonar certas palavras ou expressões, argumentando que “sempre foi assim” ou que “não há intenção de ofender”. No entanto, é importante compreender que:
- A intenção não elimina o impacto: Mesmo sem intenção de ofender, o uso de termos preconceituosos pode causar dor e reforçar estigmas.
- A língua evolui: Assim como não falamos mais como no século XIX, é natural que expressões preconceituosas sejam substituídas por alternativas mais respeitosas.
- Respeito e empatia: Abandonar termos ofensivos é um exercício de empatia e respeito com grupos historicamente marginalizados.
- Responsabilidade social: Ao modificar nossa linguagem, contribuímos para uma sociedade mais justa e igualitária.
Como ressalta a doutora em linguística Jorcemara Cardoso, “não basta apenas deixar de falar certas palavras ou substituí-las por outras, é preciso compreender porque devemos parar de utilizar a língua como instrumento de dominação”.
A resistência à mudança
É comum encontrar resistência quando se propõe o abandono de termos arraigados no vocabulário cotidiano. Essa resistência pode vir de diferentes lugares:
- Desconhecimento: Muitas pessoas simplesmente desconhecem a origem preconceituosa de certas expressões.
- Apego à tradição: A ideia de que “sempre foi assim” pode dificultar a aceitação de mudanças.
- Negação do preconceito: Algumas pessoas negam que determinadas expressões sejam realmente preconceituosas.
- Confusão com “censura”: Há quem interprete a proposta de abandono de termos preconceituosos como uma forma de censura ou limitação da liberdade de expressão.
No entanto, como explica Gabriel Nascimento, “não é a palavra que é racista, eu preciso pensar o contexto em que ela é colocada e, historicamente, como ela foi construída”. Compreender esse contexto histórico e social é fundamental para entender por que certas expressões devem ser evitadas.
Como promover uma linguagem mais inclusiva
Promover uma linguagem mais inclusiva e respeitosa é um processo contínuo que envolve:
- Educação e conscientização: Informar-se sobre a origem e o impacto de termos preconceituosos.
- Escuta ativa: Ouvir as pessoas dos grupos afetados quando elas apontam que determinados termos são ofensivos.
- Abertura para mudar: Estar disposto a modificar hábitos linguísticos arraigados.
- Compartilhamento de conhecimento: Compartilhar de forma respeitosa informações sobre termos preconceituosos com outras pessoas.
- Paciência e compreensão: Entender que a mudança é um processo e que todos podemos cometer erros durante o aprendizado.
Conclusão
A evolução da linguagem para formas mais inclusivas e respeitosas reflete o amadurecimento da sociedade e sua capacidade de reconhecer e corrigir injustiças históricas. Abandonar termos preconceituosos não é apenas uma questão de “politicamente correto”, mas um exercício de cidadania e respeito à dignidade humana.
Como afirma Cardoso, “a língua pode ser usada como instrumento de dominação”, mas também pode ser um poderoso instrumento de transformação social. Ao escolhermos conscientemente as palavras que utilizamos, contribuímos para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e respeitosa com todas as pessoas, independentemente de sua raça, gênero, orientação sexual, deficiência ou qualquer outra característica.
A língua, assim como a sociedade, aprende e evolui. E nesse processo de aprendizado coletivo, algumas palavras ficam para trás, não por censura ou imposição, mas por uma escolha consciente baseada em respeito, empatia e reconhecimento da dignidade inerente a todos os seres humanos.
Atividade: Refletindo sobre a Evolução da Linguagem
Após a leitura do artigo “Palavras que Não Queremos Mais Usar: Quando a Língua Aprende com a Sociedade”, vamos exercitar nosso conhecimento e reflexão sobre o tema. Esta atividade tem como objetivo promover a consciência linguística e o uso de uma comunicação mais inclusiva e respeitosa.
Parte 1: Identificação e Substituição
Nas frases abaixo, identifique os termos ou expressões preconceituosas e sugira alternativas mais respeitosas:
- “A reunião de ontem foi um programa de índio, totalmente desorganizada.”
- “Precisamos esclarecer essa situação antes que os rumores se espalhem.”
- “João trabalhou tanto que parecia um dia de branco para ele.”
- “Maria entrou na lista negra da empresa depois daquele incidente.”
- “O chefe denegriu a imagem do funcionário na frente de todos.”
- “A coisa tá preta para o time depois de três derrotas consecutivas.”
- “Vamos disputar a negra para decidir quem é o campeão do torneio.”
- “Aquela mulata é a dançarina principal do espetáculo.”
- “Ele tem um cabelo ruim que precisa de muito tratamento.”
- “Mesmo sendo cego, ele consegue se virar muito bem sozinho.”
Parte 2: Análise e Reflexão
Responda às seguintes questões com base no artigo e em suas reflexões:
- Por que é importante abandonar termos preconceituosos, mesmo quando “não há intenção de ofender”?
- Explique como a evolução da linguagem reflete mudanças na sociedade. Cite um exemplo específico mencionado no artigo.
- Quais são os principais argumentos utilizados por pessoas que resistem a abandonar termos preconceituosos? Como você responderia a esses argumentos?
- De que forma o contexto histórico influencia na percepção de certas palavras como preconceituosas?
- Além dos exemplos citados no artigo, você conhece outros termos ou expressões que têm caído em desuso por serem considerados preconceituosos? Explique.
Parte 3: Situações Práticas
Analise as situações abaixo e sugira como você agiria:
- Durante uma reunião de trabalho, um colega usa repetidamente a expressão “a coisa tá preta” para se referir a problemas. Como você poderia abordar essa questão de forma educativa e respeitosa?
- Você está revisando um texto que contém várias expressões consideradas preconceituosas. Quais passos você seguiria para tornar o texto mais inclusivo e respeitoso?
- Em uma conversa familiar, seu avô de 80 anos utiliza termos que hoje são considerados preconceituosos, mas que eram comuns em sua época. Como você lidaria com essa situação?
Parte 4: Criação e Conscientização
- Crie um pequeno texto (máximo 5 linhas) sobre a importância da linguagem inclusiva no ambiente escolar ou de trabalho.
- Imagine que você precisa explicar para uma criança de 10 anos por que não devemos usar certas palavras ou expressões. Como você faria isso de forma simples e educativa?
- Sugira uma campanha ou atividade que poderia ser implementada em escolas para promover o uso de linguagem inclusiva e respeitosa.
Lembre-se: O objetivo desta atividade não é julgar ou condenar, mas promover reflexão e conscientização sobre o impacto das palavras que usamos. A evolução da linguagem é um processo contínuo que reflete nosso crescimento como sociedade.
Gabarito
Parte 1: Identificação e Substituição
- “A reunião de ontem foi um programa de índio, totalmente desorganizada.”
- Termo preconceituoso: “programa de índio”
- Alternativa: “A reunião de ontem foi totalmente desorganizada.”
- “Precisamos esclarecer essa situação antes que os rumores se espalhem.”
- Termo preconceituoso: “esclarecer”
- Alternativa: “Precisamos elucidar/explicar essa situação antes que os rumores se espalhem.”
- “João trabalhou tanto que parecia um dia de branco para ele.”
- Termo preconceituoso: “dia de branco”
- Alternativa: “João trabalhou muito hoje” ou “João teve um dia de trabalho intenso.”
- “Maria entrou na lista negra da empresa depois daquele incidente.”
- Termo preconceituoso: “lista negra”
- Alternativa: “Maria entrou na lista de restrições/exclusões da empresa depois daquele incidente.”
- “O chefe denegriu a imagem do funcionário na frente de todos.”
- Termo preconceituoso: “denegriu”
- Alternativa: “O chefe difamou/caluniou a imagem do funcionário na frente de todos.”
- “A coisa tá preta para o time depois de três derrotas consecutivas.”
- Termo preconceituoso: “a coisa tá preta”
- Alternativa: “A situação está difícil/complicada para o time depois de três derrotas consecutivas.”
- “Vamos disputar a negra para decidir quem é o campeão do torneio.”
- Termo preconceituoso: “disputar a negra”
- Alternativa: “Vamos disputar a partida de desempate para decidir quem é o campeão do torneio.”
- “Aquela mulata é a dançarina principal do espetáculo.”
- Termo preconceituoso: “mulata”
- Alternativa: “Aquela dançarina negra/parda é a principal do espetáculo.” (conforme autodeclaração)
- “Ele tem um cabelo ruim que precisa de muito tratamento.”
- Termo preconceituoso: “cabelo ruim”
- Alternativa: “Ele tem cabelo crespo/cacheado que precisa de tratamento específico.”
- “Mesmo sendo cego, ele consegue se virar muito bem sozinho.”
- Abordagem inadequada: Foco na deficiência como limitação surpreendente
- Alternativa: “Ele é uma pessoa com deficiência visual e é muito independente.”
Parte 2: Análise e Reflexão
- Por que é importante abandonar termos preconceituosos, mesmo quando “não há intenção de ofender”?
Resposta sugerida: É importante abandonar termos preconceituosos, mesmo sem intenção de ofender, porque o impacto das palavras vai além da intenção de quem as utiliza. Termos preconceituosos carregam uma carga histórica de opressão e discriminação que afeta negativamente grupos marginalizados, reforçando estereótipos e perpetuando desigualdades. Como mencionado no artigo, “a intenção não elimina o impacto” – mesmo sem querer ofender, o uso de termos preconceituosos pode causar dor e reforçar estigmas. Além disso, ao modificarmos nossa linguagem, contribuímos ativamente para uma sociedade mais justa e igualitária, demonstrando respeito e empatia com todos os grupos sociais.
- Explique como a evolução da linguagem reflete mudanças na sociedade. Cite um exemplo específico mencionado no artigo.
Resposta sugerida: A evolução da linguagem reflete mudanças nos valores, na consciência social e no reconhecimento de direitos e dignidade de grupos historicamente marginalizados. À medida que a sociedade avança em termos de inclusão, igualdade e respeito à diversidade, a linguagem se adapta para refletir esses novos valores. Um exemplo específico mencionado no artigo é a mudança na forma de se referir às pessoas com deficiência. Termos como “retardado”, “mongoloide”, “aleijado” ou “defeituoso” foram substituídos por expressões que reconhecem a dignidade e humanidade dessas pessoas. Até mesmo a expressão “portador de deficiência” caiu em desuso, sendo substituída por “pessoa com deficiência”, colocando a pessoa antes da condição, o que demonstra uma evolução na percepção social sobre deficiência, priorizando a humanidade sobre a condição.
- Quais são os principais argumentos utilizados por pessoas que resistem a abandonar termos preconceituosos? Como você responderia a esses argumentos?
Resposta sugerida: Os principais argumentos utilizados por pessoas que resistem a abandonar termos preconceituosos incluem: desconhecimento da origem preconceituosa das expressões; apego à tradição e à ideia de que “sempre foi assim”; negação de que os termos sejam realmente preconceituosos; e confusão com censura ou limitação da liberdade de expressão.
Para responder a esses argumentos, poderia explicar que:
- O desconhecimento não justifica a perpetuação do preconceito, e agora que temos informação, podemos fazer escolhas mais conscientes.
- Tradições nem sempre são positivas e a sociedade evolui constantemente; assim como não falamos mais como no século XIX, é natural que expressões preconceituosas sejam substituídas.
- A percepção de preconceito deve ser considerada principalmente a partir da perspectiva dos grupos afetados, não de quem usa os termos.
- Não se trata de censura, mas de uma escolha consciente baseada em respeito e empatia; a liberdade de expressão vem acompanhada de responsabilidade social.
- De que forma o contexto histórico influencia na percepção de certas palavras como preconceituosas?
Resposta sugerida: O contexto histórico é fundamental para compreender por que certas palavras são consideradas preconceituosas. Muitas expressões têm suas raízes em períodos de opressão, como a escravidão, o colonialismo ou regimes discriminatórios. Esse passado histórico carrega uma carga de violência, desumanização e discriminação que permanece associada às palavras, mesmo quando usadas em contextos contemporâneos.
Como exemplificado no artigo, expressões como “dia de branco” ou “disputar a negra” têm origem no período escravocrata brasileiro e refletem relações de poder e opressão daquela época. Compreender esse contexto histórico nos ajuda a entender por que essas expressões são ofensivas e devem ser abandonadas.
Além disso, como mencionou Gabriel Nascimento, “não é a palavra que é racista, eu preciso pensar o contexto em que ela é colocada e, historicamente, como ela foi construída”. Essa construção histórica determina o peso e o significado social que as palavras carregam hoje.
- Além dos exemplos citados no artigo, você conhece outros termos ou expressões que têm caído em desuso por serem considerados preconceituosos? Explique.
Resposta sugerida: (Esta é uma questão aberta que depende da experiência e conhecimento individual do aluno. Abaixo estão alguns exemplos possíveis que poderiam ser mencionados)
Alguns exemplos adicionais incluem:
- “Judiação” (para se referir a maus-tratos): Termo com origem antissemita que associa o povo judeu a atos de crueldade.
- “Tem um pé na cozinha” (para se referir a pessoas com ancestralidade negra): Expressão que remete ao período escravocrata, quando pessoas negras trabalhavam principalmente em serviços domésticos.
- “Serviço de preto” (para trabalho mal feito): Expressão racista que associa pessoas negras a trabalhos de baixa qualidade.
- “Dar uma de João sem braço” (fingir não saber de algo): Expressão capacitista que usa a deficiência física como metáfora negativa.
- “Traveco” (para se referir a pessoas transgênero): Termo pejorativo substituído por “pessoa transgênero” ou “mulher/homem trans”.
Parte 3: Situações Práticas
- Durante uma reunião de trabalho, um colega usa repetidamente a expressão “a coisa tá preta” para se referir a problemas. Como você poderia abordar essa questão de forma educativa e respeitosa?
Resposta sugerida: Uma abordagem educativa e respeitosa seria:
- Esperar um momento oportuno para conversar em particular com o colega, evitando constrangê-lo publicamente.
- Iniciar a conversa de forma amigável, reconhecendo que provavelmente não havia intenção de ofender: “Notei que você usou algumas vezes a expressão ‘a coisa tá preta’ na reunião. Sei que é uma expressão comum, mas gostaria de compartilhar algo sobre ela.”
- Explicar brevemente a origem e o problema com a expressão: “Essa expressão associa a cor preta a algo negativo, o que pode reforçar inconscientemente preconceitos raciais.”
- Sugerir alternativas: “Existem outras formas de expressar a mesma ideia, como ‘a situação está complicada’ ou ‘estamos enfrentando dificuldades’.”
- Agradecer pela escuta e mostrar-se aberto ao diálogo: “Obrigado por me ouvir. Estou sempre aprendendo também e acho importante refletirmos juntos sobre como nossa linguagem pode ser mais inclusiva.”
- Você está revisando um texto que contém várias expressões consideradas preconceituosas. Quais passos você seguiria para tornar o texto mais inclusivo e respeitoso?
Resposta sugerida:
- Identificar todas as expressões potencialmente preconceituosas no texto.
- Pesquisar sobre cada expressão para entender sua origem, contexto histórico e por que é considerada problemática.
- Consultar guias e glossários de linguagem inclusiva, como o mencionado no artigo (cartilha do TSE, glossário da LBCA).
- Substituir as expressões por alternativas mais inclusivas e respeitosas, mantendo o sentido original do texto.
- Se possível, consultar pessoas dos grupos afetados para garantir que as substituições são adequadas.
- Revisar o texto completo para garantir coerência e fluidez após as alterações.
- Compartilhar com o autor original as mudanças feitas e explicar as razões, como forma de conscientização.
- Em uma conversa familiar, seu avô de 80 anos utiliza termos que hoje são considerados preconceituosos, mas que eram comuns em sua época. Como você lidaria com essa situação?
Resposta sugerida:
- Escolher um momento adequado para uma conversa privada e tranquila.
- Abordar o assunto com respeito e compreensão, reconhecendo que seu avô cresceu em um contexto histórico e social diferente.
- Explicar gentilmente como a linguagem evoluiu e por que certos termos não são mais considerados apropriados hoje.
- Usar exemplos concretos de como certas palavras podem ferir pessoas, apelando para a empatia.
- Sugerir alternativas mais respeitosas para os termos utilizados.
- Ser paciente e entender que mudanças de hábitos linguísticos arraigados por décadas podem levar tempo.
- Reforçar positivamente quando ele fizer esforços para usar uma linguagem mais inclusiva.
- Evitar tom acusatório ou de julgamento, focando na educação e no diálogo construtivo.
Parte 4: Criação e Conscientização
- Crie um pequeno texto (máximo 5 linhas) sobre a importância da linguagem inclusiva no ambiente escolar ou de trabalho.
Resposta sugerida: (Exemplo – as respostas dos alunos variarão)
“A linguagem inclusiva no ambiente escolar/de trabalho cria um espaço de respeito mútuo onde todos se sentem valorizados e acolhidos. Ao abandonarmos termos preconceituosos, reconhecemos a dignidade de cada pessoa e contribuímos para um clima de colaboração e pertencimento. Essa prática não apenas previne conflitos e mal-entendidos, mas também promove a diversidade de ideias e perspectivas, essencial para a inovação e o crescimento coletivo.”
- Imagine que você precisa explicar para uma criança de 10 anos por que não devemos usar certas palavras ou expressões. Como você faria isso de forma simples e educativa?
Resposta sugerida: (Exemplo – as respostas dos alunos variarão)
Para explicar a uma criança de 10 anos, eu poderia usar uma abordagem simples e concreta:
“Você já se sentiu triste quando alguém usou um apelido que você não gostava? Algumas palavras podem fazer as pessoas se sentirem assim – tristes, magoadas ou excluídas. Ao longo do tempo, aprendemos que certas palavras ou expressões podem machucar os sentimentos de grupos inteiros de pessoas, porque lembram momentos em que elas foram tratadas injustamente. É como se essas palavras carregassem uma ‘memória’ de coisas ruins que aconteceram. Por isso, quando aprendemos que uma palavra pode machucar alguém, é legal procurarmos outras formas de dizer a mesma coisa. Assim, mostramos respeito e cuidado com todos à nossa volta. É como aprender novas regras em um jogo – no começo pode parecer difícil, mas logo se torna natural e torna o jogo mais divertido para todos!”
- Sugira uma campanha ou atividade que poderia ser implementada em escolas para promover o uso de linguagem inclusiva e respeitosa.
Resposta sugerida: (Exemplo – as respostas dos alunos variarão)
Campanha “Palavras que Transformam”
A campanha incluiria as seguintes atividades:
- Oficinas de Sensibilização: Encontros semanais onde os alunos aprenderiam sobre a história e o impacto de expressões preconceituosas, com convidados de diferentes grupos sociais compartilhando suas experiências.
- Mural Interativo: Um espaço na escola onde os alunos poderiam escrever expressões preconceituosas e suas alternativas inclusivas, criando um “dicionário coletivo” de linguagem respeitosa.
- Desafio da Linguagem Inclusiva: Durante um mês, turmas competiriam amigavelmente para identificar e substituir expressões preconceituosas em textos, músicas e conversas cotidianas.
- Produção de Material Educativo: Os alunos criariam cartilhas, vídeos ou podcasts sobre linguagem inclusiva para compartilhar com outras escolas e com a comunidade.
- Dia da Reflexão Linguística: Um dia dedicado a atividades artísticas e culturais que exploram o poder das palavras, com apresentações teatrais, saraus poéticos e rodas de conversa.
A campanha envolveria toda a comunidade escolar – alunos, professores, funcionários e famílias – promovendo uma cultura de respeito que se estenderia além dos muros da escola.